Com o Super-Filho

Com o Super-Filho

sábado, 13 de junho de 2009

S. Vicente de Fora -10 de Junho de 2009

Acordei com muita dor de cabeça. Não me apetecia nada correr. Preferia ter ficado deitada, mas lá fui com uma dúzia de companheiros, atletas do Clube do Sargento da Armada. Desta vez, o Óscar (o meu caniche branquinho que insiste em mudar a cor ao pêlo:)) também foi.

Ninguém fica indiferente à beleza de Lisboa. Esquece-se rapidamente a dor de cabeça, repousando o olhar nas águas do Tejo. Passeia-se o pensamento pelos becos e ruelas. Recuamos a outros dias, outros 10 de Junho, mais felizes, quando em vez de uns calções envergava um traje da nobreza quinhentista.

Em Constância, nesta data, passeava pelo Mercado Quinhentista. Simulava ser a anfitriã de um sarau ou integrava a comitiva que recebia o emissário d´El- Rei, em dia festivo de atribuição de Carta de Foral...

Há alguns anos - talvez uma eternidade - que as Pomonas Camonianas não fazem parte da minha vida. Esse tempo passou...


Lisboa, veste-se de festa para celebrar os Santos Populares. Com especial relevância para Santo António, o Santo Casamenteiro (como dizia o povo), armam-se altares, enfeita-se cantos e recantos com balões e manjericos. À noite, o cheiro da sardinha assada, há-se insinuar-se, irresistível numa fatia de pão...depois, as marchas sairão à rua e a noite terminará perto da madrugada, com uma ginginha no copo e um salto ao bailarico...

A Corrida de São Vicente de Fora, freguesia onde está instalada a Sede do Clube do Sargento da Armada, não é uma prova fácil. Dir-se-ia que Lisboa se elevou ainda mais, deixando o Tejo a seus pés e subiu...subiu... para ficar pertinho do céu...

Fiquei bem classificada no meu escalão, mercê de algum qualquer golpe de sorte...
1º lugar, Vet.III

Um obrigada especial ao António que é sempre o meu "mentor" nas corridas... "falta pouco" ...

Para ele, a Meta é sempre "já ali"...

As próximas Provas...

GRANDE PRÉMIO ENTRONCAMENTO - 21 DE JUNHO

Corrida das Fogueiras

Lagoa de Santo André

sexta-feira, 27 de março de 2009

Grande Prémio de Constância...


...ou correr por uma causa

A corrida, ou melhor, o prazer da corrida mobiliza multidões.

Corre-se apenas porque sim, corre-se porque há motivos que nos impelem, corre-se também porque há causas que nos unem. Causas mais ou menos próximas, mais ou menos abrangentes, de carácter solidário e social; causas que apoiam e/ou sensibilizam para esta ou aquela problemática...não vale a pena enumerá-las, são de todos, sobejamente conhecidas. Eu também já corri por muitas causas. A que mais me sensibiliza é a Corrida Terry Fox porque revejo nesse jovem o exemplo vivido pela minha filha. Ambos foram vencidos pela doença, mas ficou a sua coragem e determinação.

Constância será brevemente, e uma vez mais, a anfitriã de uma corrida emblemática. Correr junto aos braços verdes do Zêzere e do Tejo, passear pelas sinuosas ruas floridas, contemplar as arcadas e descobrir recantos, saborear as famosas migas carvoeiras, ou prolongar a estadia e participar nas Festas do Concelho (nas quais a prova de atletismo está integrada) e de Nossa Senhora da Boa Viagem, em que, invocando a protecção de Nª Senhora, se abençoam embarcações e viaturas, são sem dúvida atractivos suficientes para visitar a Vila-Poema, por alturas da Páscoa.

O ano passado não corri em Constância. Não tive coragem. Tinha corrido há dois anos. Este ano penso correr. Pensei também levar a efeito algo que já tinha pensado no outro ano...

Correr com a mesma t-shirt com que fiz a minha primeira Meia Maratona em memória da minha filha. Correr lembrando a Margaret em Constância tem um duplo significado: homenagear a sua coragem e a sua luta na luta contra o cancro e recordá-la a quem vir o seu rosto. Recordar ainda que esse rosto tão belo e suave está sob sete palmos de terra, lá no alto, junto à Igreja Matriz, num "amontoado" de areia à espera de sepultura mais digna.

Porque tarda tanto um pedido tão simples?

No Grande Prémio de Constância vou correr pela Margaret.

Haverá mais alguém?

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(na Meia de Lisboa)

sábado, 28 de fevereiro de 2009

Meia Maratona de Lisboa - Lembrança

Há muito tempo que não escrevia nada aqui nem no Fórum do Mundo da Corrida. Hoje, quis recuperar algumas "memórias" que por lá deixei...

de 2 Dezembro de 2007

A minha filha morreu de cancro, no dia 31 de Agosto de 2007. Um dia depois de ter completado 24 anos. A doença espalhou-se e deixou de ver e de ter mobilidade. Sofreu, mas foi uma heroína. A morte venceu-a, mas não destruíu o seu exemplo de coragem e de vida.

Ela tinha orgulho nas "corriditas" da mãe. Ontem, 3 meses e 1 dia depois de ter sido sepultada, corri por ela a Meia Maratona a que teria adorado assistir e aplaudir.Há muitos motivos ara correr. Também pode ser uma forma de demonstrar o amor por uma filha. Também pode ser uma forma de homenagear alguém inesquecível...Há uns anos atrás, não muitos, escrevia discursos. Sim, a propósito desta ou daquela cerimónia ou de outra qualquer situação que requeresse as "tradicionais palavrinhas". Escrevia cartas formais e ofícios com o mesmo entuiasmo com que escreveria um belo romance. As funções eram outras e eu era a Paula "das flores" - como dizia o meu grupo de trabalho. Queria isso dizer que fugia da frieza e objectividade das comunicações oficiais com que quase sempre se reveste a linguagem formal (oral e escrita).A minha filha era a minha crítica. Sempre que podia, perguntava-lhe a opinião. Lia-lhe. Ela escutava, criticava e analisava. Eram pequenos pormenores de uma grande cumplicidade que existia entre nós.Comecei a correr há pouco mais de um ano. Passei a tentar relatar essas experiências. A sua situação de saúde agravou-se e com ela o terreno das "flores" foi-se tornando estéril. Já não floresciam as urzes audazes dos montes, nem os malmequeres simples nas encostas, nem as papoilas escarlates nas veredas. Ainda assim, ela deliciava-se com as narrativas das minhas corridas.A mãe, à qual associava em outros tempos os saltos finos e altos, era agora vista com uns ténis e uma cor avermelhada nas faces, esbaforida por ter ido correr. Criei uma imagem diferente. Mas ela, adorava igualmente essa mãe e a mãe adorava cada vez mais essa filha. Dia-a-dia a sua coragem de viver, de lutar contra a doença sem um queixume, pensando sempre nos outros, construíndo sonhos para o seu futuro mais próximo e mais longínquo tornou-se quase insustentável para nós que com ela convivíamos e a amávamos, por não nos sentirmos à altura deste ser verdadeiramente excepcional.Por isso, todos os gestos simples que possamos fazer, os fazemos em sua memória. Por mais complicada ou desgastante que possa ser a situação, o esforço será sempre um grão de areia perante a grandiosidade do que foi a sua vida e daquilo que merecia. Ainda que lhe pudesse oferecer o Céu e a Terra seriam presentes pobres.Ontem, ofereci-lhe a corrida em que participei. Hesitei em ir por várias razões. Duvidei de mim e dos motivos que me levaram a correr. Era por ela, mas tive medo que fosse também por mim. Deveria ser apenas por ela. Eu deveria ser as suas pernas, novamente funcionais e os seus olhos novamente a verem. Antes do tiro de partida, beijei a sua estrelinha azul (que trago sempre ao peito) e segredei-lhe:"Filhota, corre comigo".Quase a podia ver a correr ao meu lado, outras vezes adiantando-se rodopiava brincando à minha frente...Saltitava como uma menina (que é), deslizava como um anjo que fosse, desvanecia-se a meus olhos como o nevoeiro difuso sobre o último braço de rio, para deixar ver, de novo, os seus contornos, por entre a proa dos navios atracados. Ela correu nas asas de uma gaivota, nos raios de sol que brilhavam e nas folhas amareladas que caíam...Ela correu comigo e eu corri por ela. Restituí-lhe os movimentos e com os meus olhos vi os que os dela tinham deixado de ver: a beleza desta velha cidade com cheiro a sal e a mar.Há ajudas preciosas e eu tive a sorte de ter uma amiga ao lado. Quem nos visse, de camisolas iguais, pensaria sermos irmãs. O meu mundo interior era um turbilhão, mas apenas deixava escapar gracejos e risos. Estas máscaras são conhecidas, não é? E eu começo a ser mestre na sua arte.Foi uma prova linda, bem organizada que eu gostaria de descrever ao pormenor, fazendo jus a tudo quanto de positivo aonteceu (e deve ter sido tudo). Não o faço. Outro, alguém de entre aquela imensa massa humana, registará fielmente a XXII Maratona de Portugal.Para mim foi a I Meia Maratona e corri os 21Km e 95m em memória da minha filha Margaret. É a ela que vou entregar a minha medalha.

Palavras escritas (em elaboração)

  • Sem Rumo Certo (romance)